sexta-feira, 7 de março de 2014



Boa noite pessoas amadas! Recebi hoje no Facebook o seguinte desafio de 2 amigos:
“Desafio Brasileiro de Poesia
O objetivo é desafiar 5 amigos. Cada um terá um prazo de 24 horas para postar uma poesia em sua própria linha do tempo e indicar mais 5 amigos para cumprir o desafio, caso contrário deverá presentear quem o desafiou com um livro de poesias.
Então, eu, como amante de poesia, é óbvio que vou entrar na brincadeira e como são dois amigos que me indicaram, eu resolvi postar um “longo” trecho (que vai valer pelas duas poesias que eu teria que postar, ou mais); da “MATÉRIA DE POESIA”, do maravilhoso “Nequinho” (um dos maiores poeteiros do Brasil e ainda vivo), o qual ele dedicou como se fosse um “beijinho no ombro” para o Antônio Houaiss (risos). E lá vamos nós:

II. COM OS LOUCOS DE ÁGUA E ESTANDARTE
I.
Um João foi tido por concha / Atrapalhava muito ser árvore – assim como atrapalhava muito estar colado em alguma pedra / Seu rosto era trancado com dobradiças de ferro para não entrar cachorro / Só um poço merejava por fora dele e sapos descangotados de luar...
Esse João desenhava no esconso: - Quem salvar a sua vida, perdê-la-á com árvores e lagartixas!
Pelos caminhos íngremes da mata via estrelas subindo em lombo de borboletas
- Você dorme em paredes, João?
- De jeito maneira / Eu não tenho vasilha de dormir / Caracol de cipoal não chega nunca de ser um caracol de parede / Conheço a fenda dos paus / Ser pedra depende de prática / Parede abre a gosma é dos sapos / Já conheci raiz-de-santo nestes pedrouços / Não faço hino de cera, meu amo / Pacu na água rasa só anda de prancha / Eu conheço. Eu sei. Metade do sol já foi tomado por pássaros / E as árvores me atacam no mesmo grau que as pedras...
Usava-se até o orgasmo: - Estou apto a trapo! / A gente é rascunho de pássaro / Não acabaram de fazer...
Borboletas maduras chegavam de pousar nos seus discursos: - Eu andei muito para enrugar meu couro / Cada um tem seu caminho que percorre em todos os insetos / Eu sei até a hora que o passarinho tira a roupa...
O que é feito de pedaços precisa ser amado!
Eu conheço, eu sei. / O orvalho é para quem pervaga...
Envelhecia a boca nas folhagens / A morte gerava fora do caroço / Cinzas o penetravam como prego em pneus / - Estamos somados à própria boca! / Na posição de Buda é que se vê melhor como a gente carrega água na cesta!
- Você sabe o que faz pra virar poesia, João?
- A gente é preciso de ser traste / Poesia é a loucura das palavras:
Na beira do rio o silêncio põe ovo / Para expor a ferrugem das águas eu uso caramujos / Deus é quem mostra os veios / É nos rostos que os passarinhos acampam!
Só empós de virar traste que o homem é poesia...
Quebraram dentro dele um engradado de estrelas: - Vaga-lumes entortados de luz, eu vejo!
E a flauta dos pássaros interpretando os homens / Madrugada esse João / Botou o rio no bolso e saiu correndo... Pega! Pega!
Tropeçava em ladeiras batentes trechos de sambas / Cansado de tanto correr esse João esbarrou com o rio completo no bolso! / Entrou num terreno baldio de 10 x 20 sujo de mato / Ramos de lua reverdeciam de latas / Chuvas mudavam nódoas de lugar / Não podia virar cambalhotas que o rio desaguava nele / Lá fora a cidade no avesso purgava / O AZUL / passava de mosca em mosca / Estava acima de nossa fraqueza evitar tanta mosca / Começou a chover / Palavras desceram no enxurro / Usava-se a cara conforme o cuspe / Certas palavras pediam para mostrar os pentelhos / Se andasse de cabeça para baixo o rio escoava / Tinha de ficar de pé segurando o casaco no sol! / Os pássaros assestavam seus cantos para o lado dos trilhos / Lagartos arrastavam os vergalhos no bar / Lembrou-se do quarto: seu quarto cheio de marandovás que comiam livros / Bem antes de amanhecer, tinha recomendado às autoridades um embrulho de fezes que deixara sobre a estante / Não houvera intenção de roubar o rio / Andava puído de sombras / Saíra apenas para passear e espolegar paredes / Gostava de espolegar paredes...
Viajou viajou na madrugada branca / No balde encontrava um jovem com um jovem com uma tramela na boca! / E a cidade destripada dentro do olho / Águas verdes destruídas corriam sobre tijolos / As iminências do lodo? / Ruas e casas ficaram sujas de seu canto / De repente / Esse homem sorriu / Crianças / Em pleno uso da poesia / Funcionavam sem apertar o botão / Pedras Negociavam com aves.

2.
Assim falou Gidian (ou Gedeão) que assistia nos becos:
“Poeta Quintiliano me nomeou Principal / Sou lobisomem particular / Eurico me criou desde criança pra lobisomem / Me inventei / Fui procurar dentro do mato um preto Germano Agostinho, que operava com ervas / Mandou botar as unhas no vinagre vinte dias / Aprendi grande / Só as dúvidas santificam / O chão tem altares e lagartos / Remexa o sr. Mesmo com um pedacinho de arame os seus destroços / Aparecem bogalhos / Quem anda no trilho é trem de ferro / Sou água que corre entre as pedras: - liberdade caça jeito / Procuro com meus rios os passarinhos / Eu falo desemendado / Me representa que o mundo é como bosta de onça, tem de tudo: - cabelos de capivara casca de tatu...
Gosto é de santo e boi / Saber o que tem da pessoa na máscara é que são! / Só o guarda me escreve / Palavras fazem misérias inclusive músicas! Eu sou quando e depois / Entro em águas...”



Ps.: Acho que só os 2 amigos malucos que vão ter coragem de ler tudo isso, (ou talvez nem eles), mas aos que tiverem despreguiça, eu garanto que vão se divertir! =D
Ps2.: Ref.: Poesia emprestada do livro: MANOEL DE BARROS – POESIA COMPLETA – Ed. LEYA – 2013, páginas: 141 a 146. Imagens de domínio público da internet.

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